sábado, 5 de setembro de 2009

00:15

Esperei que viesse mais cedo, você chegou ás 22:32, agora são 23:48 e você precisa ir ás 00:15 para pegar o último trem. Comecei lhe contando essas coisas porque você perguntou como eu ia e eu vou bem. Porem algumas coisas me aborrecem. Isso é afável, digo, sempre algo nos aborrece, a mim o transito, a falta de decência, a hipocrisia, filas, meus pais, perdas, saudades. Bem, todos esses aborrecimentos poderiam formar uma história, e eu lhe contaria alguns exemplos, mas convenhamos, que coisa mais chata.
Você deve ter notado que troquei as cortinas brancas, que já estavam amarelas, por esses vermelhas. Afinal eu gosto de vermelho e acho que fica bem em qual quer que seja o canto. Até neste cômodo sem graça. Algumas coisas não mudam, incluindo meu quadro da Audrey Hepburn, meus livros mal colocados na estante, todos os cinzeiros que roubei nos barzinhos da vida.
Mas você comentou no começo dessa conversa que tinha algo para dizer. Não me diga se for tragédia. Já foi o dia que tive emocional para isso. Lembra quando aquele colega dos tempos de colégio morreu? Eu não tinha mais contato, mas chorei ao ver os outros chorarem. Me doeu o peso da perda. Não sei lidar com perdas, eu nunca soube. Perdi uns selos e ainda não me conformei com isso. Mas não me deixe dispersar, você sabe que eu falo dos tempos da Grande Guerra no Japão se você comentar da sua vizinha japa.
Fale rápido, você só tem 5 min ou perderá o trem.

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